quarta-feira, 25 de junho de 2014

Garota dos olhos vazados I

Garota dos olhos vazados I
Por que o que menos importa é enxergar
quando quer enxugar
enxugar  visões e aparências
limitações e transparências
exaurir tudo o que não é mais visto
Um dia tudo começou...
e nunca mais parou
pedaços de panos costurados com cores, pernas, braços, bocas e buracos preenchidos de vitrines intrusas
um dois ou três dedos sem unha, para não machucar
desenraíza cavoca fundo e profundo todas os fios que um dia pode prender
agora permanece o furo a cova o fundo sem tampa
sem rampa
escarpado

em prateleiras armários guarda algo
espera de mansinho espacinhos em agendas fechadas e largadas
por brincadeiras recreios intervalos uma distração nos apertados dias de verão
bonecas bonecos palhaços anjinhos usados gastos estuporados em diversos lugares e altares
danificadas com tantos daninhamentos agora sem utilidade sai de cena para outras e as outras também serão outras e sempre daninhadas sem ninho
Uma história de vazamentos sem vasos com terras e barros
argilas e gessos panos e retalhos costurada em anos, meses e vidas que nunca se encontram...
só se passam se esbarram
se chocam em casas, colchetes, arrebento vazios cavidades escuras e úmidas sem pés
só cabeças
Tudo incluso
sem medo ou dedos
entremeios de sombras em paredes quentes macias e acalentadoras
sem ver o que não vem ou o que não tem
verter
pertencer
um dono
uma dona
vários ou nenhuma
sem escritora ou criadora
Inventora
Vetores

Mei

Imagem:

sábado, 21 de junho de 2014

Pendão quente colorido

Pendão quente colorido
Festa de São João
Suspensas partículas sólidas que se misturam aos variados cheiros e gostos apoderados de donos sem cria
nevoas coloridas borram os quentões que se acumulam nas pequenas bochechas corpulentas e outras esquecidas nas noites vermelhas vinho antes da meia e depois da ceia...
Incandescência afugenta  flamas que sem assombro se achega lambareando em  amarelos vermelhos de frutas secas em época distinta despertando sobressaltos em pernas de paus e cabeças de ventos...
rodas escuras em terrenos ocupados armam giras e iras em olhos turvados pelas suaves gotas de orvalhos alcoólico em acólitos disfarçados e subjugados pelas conveniências postas pelas envelhecidas e supostamente empoderecidas cadeiras pontifícias.
Colheitas ardidas elevam os delírios compulsivos para ceifar tensões ancestrais mal ditas e refletidas em progenitores abrasados pelos doces, salgados, quentes e frios, vermelhos, amarelos multicoloridos entre tantos outros e mais e abundantemente
Ventos e rebentos abrandam peles escondidas e corações carcomidos  por quebras cocos, cabeças, moleques, meninas e visíveis ou invisíveis...
Santos mantos conduzem atos salvos em rastros palhados
abrigos para finos pensamentos...
embriagados famintos determinados a um sacrifico único e anual...
sem lembrancinhas...
apenas
carmas
armas
Mei

Imagem: Romi Pereyra


terça-feira, 17 de junho de 2014

Carrossel sem Céu

Carrossel sem céu
Passado já passou em passos percorridos sob passas usadas e abandonadas
circulo distantes ecoam sons familiares em amizades coloridas e dançantes
circulo de animais girando ilusões e realidades
rodas não fazem mais sentidos em círculos amigos
ferrugens tomam conta de um nunca que foi cuidado ou abrigado
voltas cantantes soam melodias de gritos que camuflam verdadeiros martírios
voltas suas revoltas com ondas lenhosas em coloridos vibrantes e não deixa passageiros entrar 
somos só
nós
voltas e eu
eu e revoltas
suspensas sob espaços contínuos que acomodam longas horas de assentos 
reservatório vazio de imagens ilustradas em mundos paralelos de sofás amarelos
ou bancos espessos...
nada reproduz apenas reluz a luminosidade fracassada da vida sob rodas sem contas
pasmos em emplastros cautelosos de subir...
em apenas segundos são convidados a sair ... 
giras eram muito engraçadas com cores e perfumes
agora são esquecidas e amontoadas em almofadas mofadas de som e imagens...
não há um outro fim
apenas esse que me deu um sim
gira e revira todas as asas que um dia pensou ter
só cavalga em animais decompostos que almejam suturar suas posições nos lençóis usuais...
só aspira suas piras em redemoinhos temporais, pois um dias quem sabe
permanecerá
Mei 




sexta-feira, 13 de junho de 2014

Pensamentos pintados

Pensamentos pintados
sentimentos bicolor 
confusões confusas nas difusas metáforas dos dias
escorregadias palavras doces respingam nas longas passagens de uma hora para outras
baldes não enchem os vazios subterrâneos que consomem vorazmente todas as formas e cores que sem cuidado escorrem nos cantos e balanços dos minutos
afigurações moldadas em recortes sem cola 
 abandonos customizados com belezas e ardências em foscos reluzentes e massas agridoces
quantos dentes são necessários para tantas borrachas sem ter o que apagar ou disfarçar
gomas sem sabor invadem bocas ocas de pedaços de gente com intenções artificiais 
não preenche
não alimenta
não sustenta
representa
Mei   




terça-feira, 10 de junho de 2014

Seres nascentes da flor


Seres nascentes da flor
Irmãs 
imãs 
magnetismo da maior reprodução 
vigor nato e no ato...
irmãs de flor
de folhas
de espinhos
de raízes
de solo
de águas que passam e renovam cada reencarnação nossas secas cercadas sempre por adubos temperados por muitos sais e algodão doce
coloridos e amargos finos e espessos fofos e castigados
sempre e nunca 
sobrevoando passados e presentes encharcados de fecundas matizes sem diretrizes
entrelaçadas por pétalas em conchas encrustadas sempre vivas...
amor metamórfico animal e vegetal que se desabrocha em cerdas e penas rijas 
rijos dedos afiados guardiões de grandes feitos e eleitos sempre juntos em conjunto com os perpetuadores de nossa espécie que se restringe a "Eu" e "Eu"
Flores fecundadas uníssonas em vigor em expulsão para uma aparição de vida e regresso aos imortais olhares que ainda não se acostumaram a doação constante e sacrifícios poéticos vinculados há um amor terreno sobrenatural...
Uma invenção 
reinação
tentação
paixão
ilusão
redenção e purificação
tudo cavado e soterrados em pequenas hortas de grandes terrenos
com quintais de cristais...
como nós...
Eu
Mei e você(Eu)

Imagem: Patricia Anders 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pesado túnel

Pesado Túnel

quanto custou essa passagem a esse ádito sem fim...
árido e frio sem ser atingido pela luz e sentimentos
rodas e voltas em cegueira luzerna 
forte e intensa que manchava seus círculos agora abertos e sem amo
como um jogo infantil tudo iniciou com pequenas e sutis voltinhas, voltas, contornos e anéis
anéis fiéis sem réis 
núbil em nupcias
futuros largados na candura de suas armaduras 
pesado túnel que ofereceu anéis e arrancou relações 
mostrou o elo 
abraçou as correntes e beijou-me no rosto
mas entrelaçou-o em ferros 
mostrou erros desvinculados dos vínculos que nos entrelaçaram em laços de anéis perfurados e amassados
mas que um dia foi..
Anel dourado que se foi formando metamorfoseando 
caracol em crosta óxida de tonalidades diversas em personalidades reversas
com recortes profundos e nesgas passageiras
curvaturas insólitas e  sonhos rastantes 
agora
Rodete
que roda sem dentes 
amassa em pastas obscuras leves que flutuam em direção do nada deixando máculas em folhas sem leitor
histórias presas ao chão 
e menina solta nos vãos
só entre escuros perdida no infinito de seus fundos
onde é a frente de tudo?
isso é tudo?
Mei
Imagem: Aron Wiesenfeld




sábado, 7 de junho de 2014

Brincadeiras mascaradas

Brincadeiras  mascaradas
disfarçamos uma futuro incerto e algoz...
brincamos de disfarces sem meios para sustentar..
quantos artifícios e fogos precisamos para iluminar a grande e bela união ancestral que nos unia?
e quantos capotes recebemos em simulações ambíguas que mascaramos em simples gestos supérfluos...
mas agora..
penso...
o que poderíamos ter usados?
o que poderíamos ter colhido?
o que poderíamos ter cravado?
um forte prego com suas imensas pragas que  inventariam uma inevitável perda, saída, partida...
mas vieram as  turvas tretas que nos mascaravam em flores e frutos sem gostos ou cores...
mas insistíamos nas prendas e que nunca doutrinamos..
mas amamos em grandes e pequenas quantidades em simples e cotidianos vocabulário.
Mas...
Por que?
não encontramos a irrestrita árvore do grude que nos alimenta e nos aglutina em irreparável união...
brincadeiras sem graça
sem verdade
sem efeito
sem...
Você.
Mei 
Imagem: Candice Tripp

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Memória explosiva

Memórias
Explosão
tensão
emoção
Por vezes te deixei me explodir...
só para sentir tuas pontas afiadas e frescas penetrar em meus vácuos elásticos
as vezes coloridos e outras inodoros
acromático e vazio
flutuante e perdido
vezes e outras...
veloz e suave
como os ventos que nos acompanhava nas longas distancias que nos encontrávamos..
em desertos ou 
em aconchegos...
cômodos em várias moradias...
e comodidades insuflando ar de fora...
e família sugando o dentro...
sem riscos ou cortes 
apenas curativos e selos...
Mei 
Imagem: Ruel Pascual 




quarta-feira, 4 de junho de 2014

voos

Leveza
folhas...
frio...
vento...
tão leve quanto nossos pensamentos que vão e vem na velocidade de uma pluma...
penas brandas e ocas deslizam pelo mar branco de palavras que se recusam transformar em voos
céu dormindo em companhia de almas despertas pelas ausências flutuantes...
caricias passadas em relances de finas folhas marrons que de vez ou outra se pintam de alaranjados para devagarzinho molhar lábios partidos e adoçar línguas amargas...
penas
e olhares
me visitam em pequenos momentos de lembranças vizinhas
e brincam de esconde esconde
e disputas de lágrimas e sorrisos...
desenhos e pinturas se misturam em sombras veladas
e ceras me cobrem para só derreter quando seu calor chegar e capturar os fios que sobraram das verdadeiras rinhas apostadas em nossos cativeiros...
nocautes e blecautes se acostumaram com a luz
e o que reluz?
pena
...
Quem será o pássaro que irá me salvar?
...
Mei

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Assim como sou...

Assim como sou...
sucata
Mas eu escolhi desaparecer aqui...
 Eu nasci nesse mundo para procura-lo...
Sacrificando tudo o que eu ganharia com uma vida em um mundo novo.
Você fez meu corpo de sucata que juntou de algum lugar...
Minha memória está estagnada.
Eu não consigo me lembrar de nada antes de você, mesmo me esgotando de tanto tentar.
Onde eu estive até agora ou onde eu estava tentando ir...
Eu não consigo falar com você...
Mas o único calor que eu procuro nesse mundo é o seu...
Entretanto, como sou feita de sucata, não consigo sentir seu calor.
Se eu pudesse derramar lágrimas...

Acho que o inverno seria diferente.
Mei